segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

História - Parte VI - A mão de Deus


A visita no hospital era feita duas vezes ao dia, passávamos apenas algumas horas ao seu lado, mas todos os momentos possíveis estávamos lá. Não faltávamos nenhum dia, tiveram dias em que fomos expulsos pela equipe médica pois dava a hora de ir embora e nós não íamos. Nossa vida era totalmente em função do horário de visitas do hospital, dormíamos, comíamos, respirávamos, pensando no momento de podermos estar com a Valentina. Foi um período extremamente difícil pois ao mesmo tempo em que queríamos estar ao lado dela também tínhamos muito medo da hora de entrar na UTIN e saber das novidades do dia, pois a sua saúde só piorava. Eu vivia anestesiada, tentando não pensar no que estava acontecendo, chegava em casa e mergulhava em meus livros, lia compulsivamente, tentando distrair a mente. O Jr andava de bicicleta. Pegava sua bike e saía por aí. Um dia recebemos um boletim médico particularmente desanimador. Valentina estava com fungo, bactéria, um monte de drogas e não reagia como esperado. Estava com muita dificuldade em respirar mas a equipe não queria entubá-la pois tinham medo de não conseguirem extubar novamente. Saímos arrasados, viemos para casa, o Jr pegou sua bike e disse que ia dar uma volta. Me perguntou se eu o buscaria se fosse longe demais, eu disse que sim e ele foi. Cerca de quatro horas depois, eu já morta de preocupação, ligo para saber onde ele estava e ele me diz que estava lanchando com o irmão. Detalhe: do outro lado de Brasília. Tinha andado aproximadamente 20 quilometros de bicicleta até o hospital, sentado em frente, chorado horrores, depois havia ligado pro irmão, andou mais uns 10 quilometros, se encontraram e ele foi instruir o irmão a, se acontecesse o pior naqueles dias, ele estivesse preparado a organizar os ritos finais da Valentina. Me pediu para buscá-lo pois não aguentaria voltar para casa depois de percorrer aproximadamente 30 quilometros. Foi então que Deus agiu. No dia seguinte, um domingo, a prima do Jr, Adriana, ligou para ter notícias e conversamos com ela sobre o estado, que não estava nada bom. Ela já vinha falando a um tempo sobre a avó do seu marido, a vó Anália, que faz orações poderosas e pediu que entrássemos em contato. Ligamos e marcamos com ela de a visitarmos no dia seguinte, após as visitas. Chegamos pela manhã e as notícias desanimadoras, Valentina não conseguia sair do Cpap, agitada, tendo que ser sedada para se acalmar. Após a visista da tarde fomos para a casa da vó, ela havia pedido que levássemos uma roupinha da Valentina para poder fazer uma oração sobre a roupa e que colocássemos nela depois. Foi um momento muito forte, de muita fé e esperança. Ela pediu que colocássemos a roupinha sobre a Valentina, fizessemos uma oração pedindo sua recuperação e aguardássemos pois a resposta de Deus chegaria mais cedo que imaginávamos. Chegamos para a visita ansiosos e apreensivos pois não é permitido levar roupas de casa. Fizemos um pequeno contrabando e, quando os médicos estavam ocupados, fizemos o que a vó havia pedido. Pedimos com muita fé que nossa filha se recuperasse. Saimos para almoçar e, logo ao voltar já tivemos uma grande surpresa. A primeira hora de visita é reservada para a mãe pois também é horário de amamentação e os pais não podem entrar. Então eu entrei, olhei e voltei voando dar a notícia pro Jr. Valentina havia saído do CPAP e estava no Hood!!!! Era uma grande vitória. Quando o Jr entrou quase não acreditou no que estava vendo, ficamos pasmos. Passados alguns minutos a médica de plantão disse que gostaria de conversar em particular conosco. Pensamos um monte de besteira e fomos, pedindo a Deus que não fosse nada grave. Mas era uma ótima notícia. Valentina já estava com quase tres meses de idade, ficando grande para viver na encubadora, e estava surgindo uma vaga na UTI pediátrica, onde teríamos que estar ao seu lado 24 horas por dia, cuidar dela. Nas palavras da médica, estavam nos dando uma oportunidade de convívio familiar, devido ao quadro delicado da Valentina naquele momento. Os médicos achavam que estavam nos dando os últimos momentos ao seu lado mas na verdade estavam nos dando a oportunidade de começar a nossa vida em família. Disse que ainda iria demorar alguns dias pois dependiam da remoção da criança que ocupava o leito. Mas demos o OK e, após a visita fomos para casa, com o coração aos pulos diante dessa novidade em nossas vidas. Pouco tempo após chegarmos em casa o telefone tocou, era do hospital, perguntando se poderíamos ir para lá naquele momento pois o leito havia vagado e estavam programando a transferencia para aquela mesma noite. Só deu tempo de arrumar algumas coisinhas para levar e saimos correndo. Esperamos um pouquinho e ela foi transferida para o isolamento da UTI Pediátrica, que é praticamente uma suíte presidencial, rs... Nos passaram as regras da nova casa, o papai foi embora e ficamos só nós duas e, pela primeria vez, pude estar ao lado da minha filha sem ficar olhando o relógio, preocupada com a hora de ir embora. Às vezes pedimos a Deus que faça determinada coisa em nossas vidas mas somos impacientes, queremos no nosso tempo. Acho que aprendi que o tempo da Terra, dos homens, não é o tempo de Deus. Estamos aqui para aprender e, quando Ele julgar o momento certo vai nos dar o que julgar certo nos dar. Aprendi a confiar n'Ele, a ter fé em um pai de amor, que quer o melhor para seus filhos, mas que não os poupa dos tropeços do caminho no intuito de ensinar alguma lição, como todo pai amoroso faz. E Ele é um Pai de amor, de muito amor.

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